A baqueta é o que conecta o baterista ao instrumento. É nesta haste de madeira onde o músico explora a sensibilidade do toque para expressar sua identidade musical. Cada detalhe interfere no som. O quão mais refinada a técnica, mais apurada se torna a busca pela baqueta perfeita. O problema é que não há uma perfeição universal. Depende de quem toca e seu estilo artístico.
Amilcar Christófaro anuncia parceria com a marca de baquetas Liverpool. Crédito: Ludmila Tavares/I'M A BEAT
Tal busca pode levar anos ou até uma carreira inteira. Foi nesta jornada que o baterista Amilcar Christófaro anunciou nesta sexta-feira que deixará de usar as baquetas da C.Ibañez, após 16 anos de parceria com a marca, para iniciar uma nova história com a empresa catarinense Liverpool.
Conhecido por provocar emoção com o seu drumming moldado por uma alma headbanger sem abrir mão da técnica e precisão, Amilcar imprime sua personalidade nos palcos onde toca. Seja com o Torture Squad, Matanza Ritual ou Kisser Clan, busca a intensidade sonora do metal sem perder a nitidez de cada nota, por mais extremo ou rápido que possa ser o som.
No processo de evolução da sua técnica, encontrou um novo patrocinador: a Liverpool. Nesta semana, usou as redes sociais para reconhecer com gratidão o tempo que viveu com a C.Ibañez e celebrou o novo encontro que abraçou o desafio de dar mais mais um passo na sua carreira musical. Uma empresa com mais de três décadas de história que começou a tornear baquetas para atender as demandas de escolas de samba e hoje apresenta um portfólio com mais de 400 produtos para diferentes propostas musicais.
Publicação feita no dia 05 de janeiro pelo baterista Amilcar Christófaro anunciando seu desligamento da parceria de 16 anos com a C.Ibañez Crédito: reprodução Instagram
Para Amilcar, a fluidez musical é uma das recompensas ao encontrar a baqueta certa para você. "É ela que dá voz para as minhas ideias", explica. Em mais de 30 anos de carreira, encontrou no tipo 5B o peso ideal para seu estilo. No entanto, investigações recentes pela sua evolução profissional o instigou a buscar por uma baqueta com características intermediárias entre a 5B e a 5A.
As possibilidades são imensas. Tipo de madeira, formato e peso são alguns atributos que caracterizam as peculiaridades de cada baqueta. Entre as desenvolvidas para uso em baterias, normalmente são classificadas por um número e uma letra. Quanto maior o número, mais leve é o modelo. Ou seja, uma 2B tende a ser bem mais pesada do que uma 7A.
Já as letras, as mais comuns são "B" e "A". A letra "B" se refere a "band" (banda), originalmente direcionadas para bandas de teatro, big bands e orquestras. Não há um consenso quanto ao motivo da escolha da letra "A", no entanto, acredita-se que venha do termo inglês "all purpose", ou seja, de uso geral.
Baquetas Liverpool tipo 5B Crédito: divulgação Liverpool
Os metaleiros carregam o estigma de se munirem com as baquetas mais pesadas. Amilcar não vê essa lógica como uma regra. Para ele, a sensibilidade quanto ao peso vai da mão de cada baterista e não simplesmente do gênero que ele pretende tocar. Ou seja, não haveria nada errado em alguém se encontrar em um modelo leve para tocar música extrema. O importante é ser capaz de expressar sua intenção musical.
O material é mais um atributo que interfere no refinamento da técnica. Marfim, jatobá e hickory são as madeiras mais usadas atualmente, ainda que existam baquetas feitas até de material sintético ou metal, atendendo demandas diversas. Detalhes do torno também influenciam. A ponta, por exemplo, pode assumir diferentes formas. Das mais pontudas às mais abauladas.
Atributos das baquetas como material, formato e peso são características que influenciam no som e forma de tocar. Crédito: Ludmila Tavares/I'M A BEAT
Até o momento, Amilcar encontrou conforto e identificação com baquetas de marfim com a cabeça arredondada para explorar sons mais nítidos e trabalhar com eficiência o efeito de rebote, poupando energia ao executar músicas com muitas notas por minuto. No entanto, o início deste novo capítulo com a Liverpool se tornou uma janela para testar novas possibilidades e se sentir, talvez, mais próximo da sua baqueta perfeita.
Professor há 20 anos da escola Bateras Beat Pinheiros, sempre dedica os primeiros 20 minutos da sua aula para estimular o aluno a sentir o peso da baqueta, trabalhando a sensibilidade com exercícios de rudimentos. Mesmo após décadas como músico profissional, assume mais uma vez a posição do seu próprio aluno para se redescobrir e aprimorar suas técnicas a fim de atingir sua verdadeira missão: alcançar a paixão das pessoas pela música e bateria.
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