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A REVISTA DAS BEATS

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Encontrando Aqualung em meu primeiro Jethro Tull

Atualizado: 18 de abr.

Por Antonio Marques (Novato) @ladodireitodopalco


Foto: Discoteca Laziale/Divulgação

Onde você estava dia 15 de março de 1996?


Em 1996 tive a minha primeira oportunidade de ver Jethro Tull ao vivo. Por falta de dinheiro, normal para um adolescente de 16 anos, não pude ir e minha escolha para aquela noite de sexta-feira foi ir para o Black Jack presenciar a porradaria insana do Siegrid Ingrid.


Muito mais barato, agitado e violento, eu assisti somente 1 música do show. Logo no começo de Beliefs, tomei uma pancada na boca que arrancou lindamente meu dente frontal.


Essa história conto em detalhes no episódio “Sangrando do lado direito do palco” e por esse motivo lembro exatamente onde eu estava neste dia de 1996.





28 anos depois e já com o dente implantado pude finalmente tomar a decisão certa e ver Ian Anderson com o Jethro Tull no palco.


O plano era montar uma cobertura em vídeo para o youtube para o canal com as chamadas tradicionais para as redes sociais, o que foi por água abaixo devido ao aviso que tive logo que cheguei ao Vibra de que a banda não permitiu fotos nem vídeos durante o show.


O que foi maravilhoso.


Foto - Novato LDdP

Nem mesmo o fator de eu estar “lá na casa do chapéu” como meu pai dizia, na plateia mais que superior da casa que já teve o nome de Credicard Hall, tirou o êxtase de entrar nos sons de flauta, guitarra, baixo, teclado e bateria da banda, orientado pela voz inconfundível de Ian Anderson.


Uma chamada padrão de voz da casa anuncia Jéturo Tool (nessa pronuncia mesmo), as luzes apagam e a banda já está no palco.

Anderson é um dançarino que empunha sua flauta de forma magistral, sem tirar o brilho e delicadeza da performance de cada integrante da banda.

A junção destes sons com as imagens sincronizadas, vezes de campo e fazendas outras de cidades industriais, poluição e guerra me fez sentir que eu estava não só em um show, mas em um filme, com uma história sendo contada música atrás de música.


Quando a versão de Bourrée surge no palco, fico vidrado no palco e posso até sentir a respiração dos músicos mesmo estando a quase um quilometro de distância lá em cima quase que no teto da casa de shows.

Uma pausa de quinze minutos me traz a realidade de que não é um filme, mas talvez uma peça de teatro que eu esteja vendo.


Estaria eu em uma encenação de Senhor dos Anéis? Irão aparecer magos e viajantes? Ou estou em uma viagem em São Thomé na busca do caminho junto de meus amigos do Cheap Tequila?


Dark Ages é tão pesada quanto os tempos atuais com imagens que nos doem por perceber que a humanidade cria tanto ódio, violência e mortes desnecessárias.


Sigo sem piscar quando toda a dor de perder o dente em 96 me traz lágrimas nos olhos ao ver Aqualung no telão, representado por tantos que vivem perdidos (?) e escondidos nas ruas, com grandes barbas sujas no sereno frio da escura noite da cidade. Um arranjo diferente do que se pode esperar e incrivelmente lindo.


Foto - Novato LDdP

Uma locomotiva chega anunciando que o show está no fim. Momento de agitar junto com os músicos e mesmo com a liberação de filmagem, apresentada com uma foto do vocalista com um binóculo com ícones e aprovação em cada uma das lentes decido não filmar e sigo sentindo o show até seu fim, enquanto Ian Anderson empunha sua flauta e se equilibra em sua perna direita eternizando uma imagem há muito tempo em minha mente.


Foto: Thiago Zuma - Site IgorMiranda

Por que demorei tanto para chegar até aqui?


Foram muitos anos aguardando esse momento e quando acordo desse transe estou gravando o público saindo da Vibra muitos e muitas tão anestesiados quanto eu ao som de What a Wonderful World.


Que possamos ter uma nova oportunidade de ver essa preciosidade da música mais uma vez ao vivo.





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