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A REVISTA DAS BEATS

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Luigi Paraventi: o menino de 19 anos que se tornou a grande aposta na bateria nacional

Às vésperas do primeiro show da turnê de despedida do Sepultura após 40 anos de história, a banda comunicou a saída do baterista Eloy Casagrande e a entrada do seu substituto norte-americano Greyson Nekrutman. Quem comprou um dos ingressos que se esgotaram logo após o início das vendas para ver uma das maiores bandas de metal do mundo em Belo Horizonte não imaginava que veria naquele dia primeiro de março de 2024 a estreia de um novo integrante.


Entre tantos rumores sobre o que havia levado Eloy a sair do Sepultura cerca de um mês antes do primeiro show de uma das turnês mais importantes da banda - que àquela época não havia comunicado ainda sua entrada no Slipknot, surgiu um outro detalhe que espantou muita gente no mesmo release: Greyson, o novo baterista, tinha apenas 21 anos. Entre colegas de palco que nasceram entre 1968 e 1971, o menino veio ao mundo quando o guitarrista Andreas Kisser já havia completado 34 anos.

Greyson Nekrutman, Paulo Xisto, Derrick Green e Andreas Kisser: nova formação do Sepultura
Foto: Edu Defferrari

A diferença de idade não o fez menor no palco. Pelo contrário. Antes mesmo da metade do show, o público gritava seu nome feito um abraço coletivo de boas vindas. Greyson Nekrutman deixou o Suicidal Tendencies para assumir a cadeira de Eloy Casagrande no Sepultura, que ocupou a bateria no Slipknot, que havia demitido o norte-americano Jay Weinberg que, por sua vez, substituiu Greyson no Suicidal Tendencies. Pronto! Feita a perfeita dança das baquetas, podemos dar trégua às polêmicas para uma breve reflexão: estamos assistindo à nova geração de músicos entrar na grande cena do metal mundial? 


Eloy Casagrande jovem tocando bateria.
Eloy Casagrande integrou o Sepultura aos 20 anos, mas já fazia participação na TV desde os 12 anos revelando seu lado prodígio.

Coincidência ou não, o próprio Eloy Casagrande ocupou a bateria do Sepultura aos 20 anos, após a saída do mineiro Jean Dolabella da função. Os arqueólogos do Youtube logo resgataram imagens de Eloy quando tinha apenas 12 anos em participações em programas de televisão como do Faustão e Adriana Galisteu, mostrando que o menino já era um prodígio anunciado ainda na infância. O que antigamente era necessário um convite na rádio ou TV para chamar atenção nacional, atualmente, são os vídeos publicados na Internet os responsáveis por projetar carreiras de jovens artistas mundo afora, como já foi o caso do próprio Greyson.


Acalmados os ânimos, fica a pergunta: quem será o próximo jovem baterista a surpreender os brasileiros em uma grande banda de metal? Eu tenho uma aposta: o paulistano Luigi Paraventi. O menino de 19 anos ainda não tem um artigo na Wikipedia no seu nome, conquistou sua carteira de habilitação há pouco tempo e ainda se lembra com humor das muitas vezes que precisou apresentar seu RG para tocar em casas de show. Mas não é no anonimato que o jovem baterista vive. Seu Instagram já completa quase 17 mil seguidores e já participou de grandes podcasts como o Amplifica, do anfitrião Rafael Bittencourt.



Apesar da idade, sua carreira já soma praticamente 10 anos. Começou cedo. Aos 9 anos, bateria já era um tema sério na sua infância. Aliás, a seriedade fez parte de toda sua trajetória. Ele lembra que um dos castigos que seus pais usavam quando ele raramente desobedecia uma orientação em casa era ter que ir brincar. Desde muito novo, seu prazer estava em assistir a filmes cult ou ao canal History Channel. As notas na escola refletiam a atenção que dava aos estudos que nunca foram colocados em segundo plano enquanto desenvolvia sua carreira artística. A disciplina veio da criação atenta dos pais e das aulas de Karatê. Aprendeu a respeitar ainda mais a hierarquia e o conhecimento das pessoas mais experientes do que ele.


A interação com os mais velhos ia além do tatami. Começou a trabalhar cedo. Sua primeira gig foi em um evento da 89FM - A Rádio Rock - aos 14 anos. "Isso me amadureceu muito. Valorizo demais quem é mais velho, quem tem mais estrada. Pra mim é uma relação muito natural. Tenho um enorme respeito por outras gerações." Luigi aprendeu com erros e acertos de quem chegou antes dele. 



Quando observa os músicos que fizeram história nos palcos, mas comprometeram suas vidas pessoais e saúde abusando do álcool e drogas, ele já vê a bateria sendo praticamente um esporte. Para ele, não faltam bateristas para se inspirar que cuidam do corpo para uma melhor performance com as baquetas. Alexandre Aposan, Jean Dolabella, Bruno Valverde e o próprio Eloy Casagrande são alguns destes nomes. Ao mesmo tempo, não deixa de ouvir os clássicos para aprender e se inspirar. Para ele, o segredo está em tirar o melhor de cada geração.


Diferente de muitos jovens bateristas de metal, Luigi valoriza quem domina o andamento lento. Não basta pedalar a 300 BPM no pedal duplo se não tem controle ou consistência. A inspiração vem de nomes consagrados na própria MPB como o ilustre Carlos Bala. "É como se fosse uma onda a ser construída. Quando toca lento, você está tocando dentro de uma pulsação. É isso me emociona."


Enquanto achamos que a nova geração busca o artificial e sintético, ele quebra os estereótipos. Nem mesmo liga o metrônomo dobrado para praticar pedal duplo. Deixa a segunda nota flutuar entre um bip e outro do marcador de tempo. "Não gosto de recursos de edição para deixar tudo quadrado. Tem que estar no grid, mas não estar quadrado. A bateria respira. Gosto muito de fechar o olho e ficar ouvindo. Levar isso para o metal é o grande lance."



Sua rotina é metódica. Garante os exercícios de manutenção da técnica, rudimentos, criação e movimentação na bateria. Atualmente, tem investido parte dos estudos em aprimorar técnicas de pedal duplo para ganhar ainda mais consistência e repertório. Inspirado pelo Eloy, curte praticar quintinas e septinas. Para ele, quebrar a obviedade é o que faz da criação algo legal. Além dos estudos, sua rotina profissional já é de gente experiente. Com trabalhos de estúdio e no palco, atualmente ocupa a bateria de nomes como Kiko Loureiro, Command6 e Carol Biazin. 



Apesar de não se ver atuando em outra carreira, segue conquistando boas notas no curso de Publicidade e Propaganda na ESPM. A vida corrida faz com que ele tenha pouco tempo com a família, apesar de ver nos pais, tios, primos e namorada o seu grande círculo de amor. "Mas é tudo muito honesto, eles respeitam meu sonho e me apoiam. Fico feliz de passar essa dedicação para todo mundo. Isso que me faz dormir feliz à noite."


Para Luigi, a entrada de Greyson Nekrutman no Sepultura é uma conquista para a sua geração. Ele já acompanhava o baterista antes mesmo de ele entrar no Suicidal Tendencies. Apesar do Sepultura ser uma das suas bandas favoritas e um dos seus grandes sonhos é um dia tocar ao lado de Andreas, Paulo e Derrick, sua admiração por Greyson não deixou espaço para qualquer inveja. Seu Instagram e Youtube foi tomado por comentários que diziam "você poderia estar lá", em referência à troca de integrantes no Sepultura. Ele vê essas manifestações com gratidão, mas entende que as oportunidades chegam na hora certa. 



Quando pensa sobre seu futuro, seu sonho vai além de integrar bandas renomadas. Seu grande desejo é poder inspirar pessoas. "É emocionante receber mensagens de quem é mais velho ou mais novo do que eu. É uma vida de muito sacrifício, abrimos mão de muita coisa. Tudo que a gente faz tem um porquê. Faltam palavras pra descrever o que sinto quando posso ser inspiração para outra pessoa na música." Seu lema é nunca deixar de sonhar, mas nunca deixar de acordar para ir atrás dos seus sonhos. Para ele, seus sonhos são suas metas. Para os próximos anos, só espera três coisas: ser uma boa pessoa, ser honesto e continuar lutando.

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